domingo, 11 de julho de 2010

(Vladmir Kush)

Eu tenho milhões de coisas pra fazer, mas a coragem não chega.
Sei que estou sendo irresponsável, mas, por favor, né? Passei o semestre inteiro correndo feito uma louca e, agora, nesses primeiros dias de férias, deixei pra lá todas as minhas urgências.
Estou me sentindo a rainha da enrolação. A princesa da preguiça e a condessa do depois eu penso nisso.
Não leio os emails direito, não respondo ninguém, quase não retorno as ligações e olho, com ares de desdém, para pilhas e pilhas de coisas espalhadas pela casa precisando de providência ou de serem rasgadas e "afetuosamente, enviadas para o lixo.
Preguiça, preguiça, preguiça.
Não consigo pensar, não consigo responder, só quero ficar na rua, batendo perna pra cima e pra baixo, olhando o mundo, conversando com as pessoas e comprando bobagens. E é isso que eu tenho feito. Não paro em casa.
Também não consigo me concentrar em uma leitura séria. Tenho três Pierre Lévy me esperando, um Castells, e muita coisa boa (e necessária) que comprei durante o semestre. Mas, sinceramente, mal consigo terminar de ler as quatro Piauí atrasadas ao lado da minha cama.
Acho que tenho, aqui, uns seis ou sete livros iniciados e não finalizados. Todos bons. Todos interessantes, todos merecedores da minha atenção, mas cadê a concentração? A minha tentativa de ler Crime e Castigo está sendo quase hercúlea. Henry Miller é o amor da minha vida e mal consigo terminar uma página de Primavera Negra. Nem revistinhas da Mônica escapam do meu desinteresse.
Isso me lembra um trecho de um livro do Conan Doyle. Acho que, Signo dos Quatro.
Sherlock Holmes, em mais uma de suas colocações, diz que a mente, ao contrário do que todos acreditam, não é elástica. Existe um número máximo de informações que cabem nela. Por isso, ele só guarda coisas importantes.
Eu queria saber esvaziar a minha mente. Ela está cheia de bobagens e referências que não servem para nada. Ou para quase nada. Gostaria de ter esse poder. Aliás, quem não gostaria?
Falar nisso, não estou conseguindo dormir direito. Ansiedade, provavelmente. Ainda bem que existe chá de camomila para essas horas. E, sim, tudo isso tem um motivo. Um deles, provavelmente, é a vontade de transformar o meu cotidiano. Vivo em um constante jogo de interesses comigo mesma. Eu gosto do novo. De mentes ardentes, de pessoas interessantes e inteligentes, mas vivo cercada por minhas convicções e pelo médio. E eu me sinto na média, por isso. Enquanto a minha mente voa, as obrigações me puxam de volta para baixo. Me incomoda saber que ainda não consegui me libertar desse ranço burocrático, suburbano e classe média no qual eu estou mergulhada. No qual, eu mesma mergulhei.
Provavelmente, a maioria dos meus problemas são de origem familiar. Problemas freudianos, diriam os mais incautos. Eu também acho que são. Tenho uma dificuldade muito grande em lidar com o cotidiano, que gera a consequente intimidade entre as pessoas. O "todo-dia" me irrita. E, sim, muitas vezes, eu me sinto muito mais à vontade sozinha, do que acompanhada.  Isso talvez seja fruto da minha criação asséptica. Mas, já estou grandinha para saber lidar com isso. Todo mundo aprende, uma hora ou outra. 
Talvez, a liberdade, signifique para mim, o contrário do que significa para a maioria.
Para mim, é muito fácil lidar com o desapego. Com o descompromisso.
Difícil mesmo, é lidar com o afeto. Com relações duradouras, com o cotidiano e com o saber receber na mesma proporção que se dá.
Parece estranho para você? 
Pra mim, isso só é a página dois de um livro que começa onde termina o óbvio e que dorme na estante da biblioteca de Babel.
Não entendeu isso?
É sinal de que você pode até me conhecer, mas não conhece o que eu amo.






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