
(Nicoletta Tomas Caravia)
Ele me disse, entre um sorriso esquisito e um cigarro, que o tesão pela minha inteligência era tanta, que queria lamber meu cérebro. E foder com o meu verbo.
A minha repulsa não foi pelo cigarro, pela imagem do cérebro lambido, a minha repulsa não foi por ele.
Foi por aquele tênis imaculado.
Branco. Virgem de caminhar pelo mundo. E aquelas mãos de quem nunca trabalhou.
Como eu vou amar quem não vive por medo de se sujar?
Não, eu gosto de quem se encoxa com a vida, de quem arrisca o que não tem. Eu gosto de abrir os braços e sentir que meu corpo se abraça ao desejo de quem andou por aí e voltou repleto de delícias, num sorriso frouxo. Incorruptível e com histórias para contar.
.