segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

(Vladimir Kush)

Sábado fui para a terapia de coração aberto. Anotei, durante a semana, o que consegui, em um caderninho, para não me distrair e me enrolar. Fui disposta a ouvir, mais do que falar. Fui porque queria ir e não porque era o dia de ir. 
O intento, mais do que a intenção.
Na volta, duas horas depois, liguei o rádio e ouvi um trechinho de uma música do Oswaldo Montenegro. Era tudo o que eu queria escutar. Uma voz doce, cantando pra mim. 
Acabou a música e ele começou a falar.
Era uma entrevista.
Fiquei feliz pelo caminho mais comprido que eu havia decidido fazer.
Eu, que nunca choro, comecei a chorar, copiosamente, enquanto ouvia Lua e Flor. Não pela música, pela letra, pela melodia ou pela entrevista. Era por tudo junto e por nada daquilo. 
Há tempos não leio o que gosto, não canto o que sei de cor. Há tanto tempo não escrevo textos que eu leio depois e gosto. Só porque eu estava apaixonada. E só por isso.
E eu que nunca mais me apaixonei... 
Eu sinto falta desse estado de encantamento. Me apaixonava por um livro e lia tudo o que podia do autor. Porque eu me apaixonava por ele também. 
Me apaixonava por alguém, por um cheiro, por um verso ou pela paixão. Simples assim. Era um estado latente em mim. Hoje eu só me protejo. E trabalho. 
Ascendente em capricórnio.
Não dá mais pra voltar ao que era antes. O sentido não está no retroceder. Para mim, neste momento, está no entender. E viver. 
E, por hora, a minha percepção indica que os meus sentidos não apontam para o que eu julgo estar certo. Porque o meu julgo só me atrapalha. Ele mastiga a minha liberdade. E a minha potência.
Não foi o choro que me mostrou isso. Foi, de novo, a paixão. Por aquela voz, por aquele homem cantando, por eu estar ali, de vidros abertos, ventilando.
Acho que entendi que, no abafamento em que me tranquei, do que sinto falta não é o vento ou a ventania.
É a falta do existir pra ventar.






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