quinta-feira, 29 de abril de 2010

(Michael Parkes)

Ontem dei carona a uma amiga. Era o meu dia. E voltamos conversando. Atualmente, nessa correria insana, quase não conversamos mais.
Ela é uma das mulheres mais inteligentes (e desorganizadas) que eu conheço. Pós-doutora e completamente pirada. É claro que a vida cobra um preço pela genialidade. O dela é esse. Mas, acho que ela nem liga. Até gosta.
Eu sempre dou risada quando estou com ela. Figuraça. Além do mais, aprendo muito e de verdade.
E ontem, mais uma vez, veio uma lição. Há dois anos ela teve câncer na garganta. Foi uma fase difícil. Eu me lembro. Muita quimioterapia, alimentação especial (por tubo), magreza excessiva  e o medo da morte, pungente e insistente.
A lição não foi a superação do câncer. Quer dizer, essa lição, ela já havia me dado antes. Ontem, o que me doeu, foi ouvir:
- Essa é a coisa mais difícil que eu já passei em toda a minha vida. Mais difícil que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.
E eu olhei para ela sem saber o que dizer. Como alguma coisa pode ser mais difícil que o câncer?  Que a morte?
O filho da minha amiga, com 17 anos, teve o segundo surto psicótico. Drogas.
17 anos e dependente químico. 
Filho de pai e mãe geniais e intelectuais. Bem nascido, bem criado e alimentado. Amado pela família e drogado.
Eu olhei para ela, desfiz minha cara emburrada de quem está cansada e de saco cheio e me rendi.
Eu não tenho problemas. Aliás, é claro que eu tenho. Mas, em uma comparação sem sentido, porque cada vida é diferente da outra, eu não tenho problemas. 
E ainda reclamo. 
Decidi que preciso realmente descansar. A exaustão tem me deixado chata. E eu não sou assim.
Estou assim.
Decidi ontem que vou prestar atenção mais em mim. Na minha família e nos meus amigos (os que valem a pena, claro).
Hoje fui ao salão, fiz as unhas, arrumei o cabelo, conversei com a minha mãe e estou aqui escrevendo. Pensando no trabalho, é claro, mas me dando horas. Porque, guardadas as devidas proporções, a conselheira estelar está certa. As pessoas podem ser dependentes de várias coisas. Trabalho pode ser uma delas e eu não quero, nunca, perder o controle sobre minhas escolhas. Quero poder decidir o que é melhor para mim. E não vou deixar que empresa nenhuma ou coisa nenhuma faça isso por mim.
Ponto.

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