quinta-feira, 8 de abril de 2010

  (Klimt)

Hoje, quando voltava pra casa, lembrei, mais uma vez, do que ele me disse.
"Se é para morrer, que seja no meio das pernas da mulher que amo".
E eu sempre sorrio quando lembro disso.
E eu sempre sorrio quando lembro dele.
Não é segredo que, para mim, o melhor e mais intempestuoso afrodisíaco, é a inteligência inquieta de um homem que sabe o que diz. E eu não vou mentir para você. Conheço poucos, muito poucos homens assim.
E ele é assim. Genial, doce e encantadoramente lascivo.
O sorriso mais escrachado e pervertido que eu conheço.
Os olhos mais interrogativos que eu já olhei.
E eu suspiro quando penso nisso.
E, foi também em um suspiro, que ele me disse, entre tantas coisas que já me disse, que queria me ver morrer.
E achou graça do meu jeito sem jeito de lidar com a situação.
- La petite mort, Lidiane.
Sim, eu sei. La petite mort. O átimo do orgasmo. A morte mais curta e mais deliciosa de todas.
Hoje, quando voltava pra casa, lembrei mais uma vez do que ele me disse.
E de como ele riu quando contei dos meus medos de menina.
De como ele chorou quando contou que nunca mais veria a mãe.
De como gosta de falar, d-e-v-a-g-a-r o meu nome, lambendo as vogais, depois de beijar as consoantes.
 
Hoje, quando voltava pra casa, lembrei do poema bobo e sem rima que fiz pra ele.
O meu anjo catalão. O meu incubus encarnado.

O homem que quis a minha morte.


Que você morra.
E que morra agora,
sufocado,
afogado,
exaurido.
E que entre minhas pernas,
latentes e assassinas,
você clame,
chore,
e me peça para morrer de novo.
E de novo.
E de novo.
Até que o sol,
meu amante impiedoso,
acorde em fúria
mandando embora a lua,
minha cúmplice assassina.
Silenciosa.
Velha.
E senhora das meretrizes.


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