quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

De volta e quase imersa na realidade. Mais alguns dedos e a culpa de não fazer nada vai me consumir.
Não que o começo do ano tenha sido dos mais fáceis, porque não foi. Mas há compensações e uma delas foi ter visto, de novo, o mar de Salvador.
Fazia tanto tempo. Tanto! Quase esqueci de onde eu vim. Talvez porque eu tenha andado preocupada demais em saber para onde vou.
E, confesso: ainda não sei. Mas consegui relembrar de algumas coisas perdidas. De onde eu vim, as pessoas são sorridentes e briguentas. O sorriso é aberto, verdadeiro e espontâneo. As brigas fazem parte de um cotidiano barulhento e inofensivo. Brigas cutâneas e esquecidas rapidamente.
O ar de Salvador cheira a dendê e a maresia. Não a um ou a outro. A mistura é mais forte que a unidade. Dendê e maresia juntos. Apesar da bênção de todos os santos, Salvador é regida pelo deus sol. Onipresente e ardido.
As mulheres de Salvador são grandes, impetuosas e, em sua maioria, espontâneas. Manter um diálogo é fácil e, quase sempre, agradável. Os homens de Salvador são viris e fazem o estilo "conquistador", ainda que sejam pouco cavalheiros. O que, de certa forma, me agrada neste momento. A androgenia tem me deixado entediada nos últimos tempos. Talvez por isso, eu olhe para os lados e sinta certo desconforto. Cuidei do intelecto e descuidei dos meus desejos. E eu tenho muitos desejos.
Me tornei um robô do cotidiano e uma escrava da responsabilidade. Agora eu vejo.
Por que eu não posso, de forma natural, trabalhar em estado de alegria, no lugar da angústia e da pre-ocupação?
Eu amo São Paulo, sabe? Mas agora entendo, realmente, o que Caetano sentiu quando compôs Sampa.
Do avesso ou não, prometi para mim mesma, que em 2011 eu vou abrir espaço na minha vida para possibilidades que andei camuflando. Entre elas, o amor.
Agora é esperar pra ver.

Um comentário:

Pablo Carvalho disse...

Lindíssimo texto, querida Lia. Salvador tem mesmo esse poder, o de abrir as portas da alma. Possa você levar sua baianidade nagô dentro de si, em cada gesto amplo ou restrito, público ou secreto: a leveza interior, o riso que vem do peito e a nossa mania de fazer barulho, de cantar ou batucar qualquer bagunça pra manter a alegria sempre por perto. Mega abraço.